Quem vem e atravessa o rio…
Podia começar assim parafraseando Porto Sentido de Rui Veloso.
O rio é outro e a cidade também.
Que eu conheça não existe qualquer canção sobre ambos.
Mas quem mora abaixo da margem sul do Tejo conhece bem esta imagem.
Uma imagem de outros tempos.
Tempos passados que não voltam mais, mas que marcaram uma época, acontecimentos, experiências, momentos que não passaram disso mesmo, apenas momentos.
Deixo-me de divagações e levanto o véu dizendo, para quem não conheça, que o rio é o Rio Sado e a cidade, a Cidade de Setúbal, implantada a nascente da Serra da Arrábida e espelhada na foz do rio Sado, num abraço das suas águas com o Oceano Atlântico, numa zona de costa denominada Costa Azul.
E durante longos anos este era o barco, melhor dizendo, o ferryboat, que fazia a travessia do rio, ligando à cidade, uma tão bonita zona de praia de seu nome Tróia. Nele viajavam gentes e carros.
Houve tempo, em que os viajantes se deliciavam a ver, saltando como que brincando, aqueles mamíferos aquáticos tão simpáticos quanto inteligentes… os Golfinhos. E percorrendo as águas eles próprios navegavam acompanhando o barco, numa espécie de desafio… vamos ver quem chega primeiro?
Eram de facto outros tempos, em que a poluição ainda se encontrava num estágio que isso permitia.
Hoje, muito de todo este cenário mudou, a começar pelo novo visual dos barcos que navegam na mesma travessia, a mudança de lugar do cais a que aportam, a visualização moderna que se tem de uma Tróia, mais luxuosa, mais apelativa ao olhar, voltada para o grande turismo e o mais importante, a falta da companhia dos golfinhos que tão agradável era a quem passeava.
Esta mudança teve o seu início a 8 de Setembro de 2005, com a ocorrência da implosão das duas torres de construção inacabada que há um bom par de anos por ali se mantinham.
Nesse dia eu estava lá, em férias no Soltróia Beach Club (I).
Nem só no cenário desta zona as mudanças ocorreram.
O tempo segue o seu curso imparável, com ele a vida toma o seu caminho e tanta coisa se altera.
O que têm de particular e em comum estas duas fotos dos ferryboats?
Em ambas eu viajava dentro deles.
Na primeira, alguém ficou no cais vendo-me partir e tirou a fotografia.
Na segunda, três anos mais tarde e também em Setembro, eu mesma tirei a foto.
Abraçou-me a saudade e atraiu-me a cor vibrante que decorava o barco em contraste com as cores suaves da natureza à sua volta.
Envolvi-me no pormenor das cores do vestido da doce menina que tão bem se inseria na paisagem e o click saiu.
A 30 de Agosto deste ano, fiz de novo esta viagem e por um estranho e absurdo esquecimento, não tirei uma fotografia.
Mafalda, 7 de Outubro de 2011
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