No silêncio da noite sonolenta, escutava o ressoar dos seus passos cadenciados, leves.
Caminhava sem pressa, sem destino, sem rumo, apenas para se sentir totalmente inteiro nos seus pensamentos que o transportavam a prazeres poucas vezes sentidos.
Deixou-se guiar pelas luzes dos candeeiros antigos e cansados.
Voou pelas asas da imaginação, pintou de cores portas fechadas e janelas escuras.
Deambulou por entre ruas e vielas contornando casas que as estreitavam e ouviu dos telhados os murmúrios e os suspiros que se evaporavam.
Lembrou-se do fado, canção tão chorada de que não gostava.
Dos poetas que cantavam os amores e as tertúlias da noite boémia e que não lia.
E no turbilhão do silêncio ensurdecedor sentiu a vida que o chamava e o tempo que passava como o deslocar soprado do vento.
Quanta calma, mas quantos gritos calados no seu caminhar solitário.
E no entanto, sentia-se completo, livre, em casa, aconchegado.
Olhou as pedras da calçada, tão característica da sua cidade, que continuava a trilhar.
Tinham brilho próprio, polidas mas gastas por tantos passos desconhecidos que a pisavam.
Percebeu que aquelas pedras respiravam, contavam histórias e delas, milhares de rostos se desenhavam.
Transpiravam plenas de vida. De vidas passadas, ausentes, alheadas, presentes, de hoje, de ontem, salpicadas de lágrimas, semeadas de sorrisos.
Pulsavam a cada minuto decorrido.
A noite é mágica, tem destas coisas! Oferece-nos momentos quase perfeitos.
E foi então que se apaixonou por aquelas pedras da calçada.
Mafalda, 27 de Novembro de 2011
Tem que haver gostos para tudo.
Eu gosto de poesia.
Ela é bela.
E gosto de fotografia e gosto da natureza.
Para ilustrar um lindo poema esta imagem de grande beleza.
Sabe a vida cheia de cor, sabe ao doce do amor.
http://olhares.aeiou.pt/o_outono_foto4061647.html
Autor da foto: Jorge de Freitas Soares
“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”…
De Fernando Pessoa (Autopsicografia)
Já que poeta não sou, deixo este de verdade.
Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vem,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu....
CECÍLIA MEIRELES
Veio daqui - http://divclube.blogs.sapo.pt/82972.html
Autora da foto - Manu
Nasceu um dia uma flor
Chamou-se de amor-perfeito.
Era lindo e de coração cheio.
Por cada olhar trocado
Por cada beijo roubado
Por cada afago sentido
Por cada abraço oferecido
Nasciam pétalas de flores
Coloridas de diferentes cores
Macias como veludo
Brilhantes como cetim
Delicadas como seda
De vida tão fragilizada
Bastava uma orvalhada
Para logo o amolecer.
Era um perfeito amor
Que de tão perfeito ser
Fora vivendo com pressa
Conjugando o verbo ser.
Foi aos poucos desfalecendo
Aquele tão perfeito amor
Perpetuou-se no tempo
Sendo agora no passado
Um amor tão imperfeito.
Amores-perfeitos by Manu
Mafalda, 16 de Fevereiro de 2011
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