“...Ó noite de Santo António
Ó Lisboa de encantar
De alcachofras a florir
De foguetes a estoirar
Enquanto os bairros cantarem
Enquanto houver arraiais
Enquanto houver Santo António
Lisboa não morre mais…”
Noite de festa na cidade que de noite não se deita e vai de bairro em bairro pelas colinas espalhados, festejar com grande fogo, dando vivas à tradição, as festas populares.
E de viela em viela, becos e estreitas ruelas, escadinhas e pátios, nascem molhos de gente, mirando a luz e a cor dos enfeitados arraiais.
Ouvem-se os pregões chamativos a que ninguém resiste.
“Olha a bela sardinha assada!”
E lá vem mais uma pratada ali para a mesa do lado, onde há grande animação, que a canequinha de barro, já de vinho se encheu.
Ele há bifanas grelhadas, entrecosto para roer e bem cheiroso e apetitoso aquele chouriço assado que só de ver Santo António, dá vontade de comer.
Na bancada improvisada há filas de manjericos fresquinhos como uma alface no seu atraente verde que surge no laranja do seu vaso, onde nasce por acaso uma quadra adequada a cada ocasião.
Há risos e gargalhadas e já de barriga cheia, circula-se pelos bailaricos. |
O povo é tanto que dão-se as mãos na tentativa de se manterem juntos e mesmo assim há quem se perca.
- Mafalda onde estás?
- Mesmo ao pé do altar de Santo António.
- Já vamos aí ter.
- Para a próxima vens pela trela para não desapareceres.
- Distrai-me um pouquinho em busca de uma fogueira, só queria saltar e queimar a alcachofra.
- Olha-me este parvo, deu-me um beliscão no rabo!
- Essa agora foi boa Isabel. Não lhe deste um bofetão?
- Sei eu lá quem foi Manuela? A esta hora, já quantos outros não deu por essa multidão fora.
Tudo ri, a boca, os olhos e o coração e continua a animação.
E descendo a Avenida lá vão desfilando as marchas em franca rivalidade, entoando os seus hinos e enchendo de luz e cor o espaço de Lisboa, comemorando este ano, 80 anos de idade. |
O povo olha atento, numa mistura de bairrismo e admiração. |
Surpresa das surpresas, comemoram este ano também, o Ano de Portugal no Brasil, Ano do Brasil em Portugal e integram no desfile de dia 12 de Junho o agrupamento brasileiro Rei de Paus, para além dos restantes convidados: Dança do Dragão (Macau), National Band (Emirados Árabes Unidos) e o Projecto Chuva d’Amor (Portugal).
Pela noite dentro, vão entrando as horas que conduzem ao cansaço da madrugada e os pés, esses coitados pedem ao Santo milagreiro, o milagre de uma cama.
Eu por mim, só lhe peço uma coisinha…
Ó meu rico Sto. António
De fama casamenteiro
Não me dês nenhum Toino
Dá-me antes um canteiro
Pra despejar esta tralha
Bem juntinho lá do chão
Que a cabeça me baralha
E me dói no coração.
Mafalda, 13 de Junho de 2012
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