Atravessei a Ponte 25 de Abril (nunca entendi porque mudam o nome de baptismo às coisas), dei uma olhadela pela vista da minha linda cidade que dela se pode apreciar, meti-me na A5 e saí para Linda-a-Velha.
Património da Câmara Municipal de Oeiras existe aí um palácio chamado de Palácio dos Arciprestes, pertencente à Fundação Marquês de Pombal, sendo na actualidade um espaço cultural do município.
É neste lugar, gentilmente posto à disposição pelo seu presidente, que os Jograis Nova Atena, coordenados por Elisabete Castel-Branco, da Nova Atena – Associação para a inclusão e bem-estar da pessoa sénior pela cultura e arte de Linda-a-Velha (na prática uma universidade sénior com outro estatuto), fazem regularmente as suas apresentações, sendo as mesmas sempre subordinadas a um tema e por conseguinte com uma natural sequência de poesias.
E naturalmente também, os elementos dos Jograis Nova Atena são alunos daquela instituição.
Ontem, dia 24 de Fevereiro a sessão dos jograis foi dedicada a David Mourão Ferreira e à sua obra. Dia escolhido por ser a data do nascimento do escritor.
Conforme lhes é possível, este grupo procura abrilhantar as suas apresentações com outras artes como a música, onde por vezes se fazem acompanhar de peças ao piano, outras de guitarra e sempre ilustradas por quadros alusivos ao tema, pintados por um dos seus elementos.
E assim, ontem igualmente a sua apresentação foi destacada com a presença da Professora Doutora Teresa Martins Marques, licenciada em Filologia Românica e mestrado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea.
Foi aluna na faculdade do professor David Mourão Ferreira de quem se tornou uma estudiosa da sua arte e após a sua morte, foi convidada a efectuar o levantamento e o estudo do espólio literário do escritor, sendo a sua obra o objecto da sua defesa de tese, já concluída, mas ainda não defendida.
"Na poesia davidiana o sujeito não ama porque existe, mas para que exista. E existe para sentir, por vezes, o prazer de se dissolver e ciclicamente renascer."
Teresa Martins Marques
Não se tratou de uma conferência da professora. Foi mais uma participação informal que na primeira parte faz uma abordagem mais geral da obra do poeta e da sua pessoa, seguida de uma interpretação aos poemas que passo a passo iam sendo lidos.
David Mourão Ferreira, conhecido como o poeta do amor e da mulher, ao contrário daquilo que possa ter parecido, em parte por sua própria postura que vendia de si uma imagem que não lhe correspondia - dizia a professora com graça que ele afirmava que os homens não gostavam dele. Porquê? Porque estava sempre rodeado de mulheres - era um homem muito mais completo e complexo, angustiado e sofrendo a solidão.
No entanto o amor presente na sua obra era mais que isso. Era paixão e muito raramente dedicada à mulher, mas sim e principalmente à sua Arte.
A sua infância passada num ambiente de austeridade e secretismo e o nascimento do seu irmão mais novo, de quem sempre sentiu ciúme que não conseguiu superar, marcaram-no profundamente.
Nunca se consegue libertar da figura do destino no qual acreditava e a que se rendia e tudo era como um círculo, um redondo onde no final, o fim se junta ao princípio.
É por isso que da sua obra, onde a metáfora é sempre uma constante e onde abarca as mais diversas emoções e questões, desde a ternura ao sarcasmo, é publicada primeiro as obras mais recentes e só depois as obras mais antigas.
Maria Lisboa – David Mourão Ferreira
É varina, usa chinela.
Tem movimentos de gata.
Na canastra, a caravela.
No coração, a fragata.
Em vez de corvos, no xaile
gaivotas vêm pousar.
Quando o vento a leva ao baile,
baila no baile com o mar.
É de conchas o vestido,
tem algas na cabeleira;
e, nas veias, o latido
do motor de uma traineira.
Vende sonhos e maresia,
tempestades apregoa…
Seu nome próprio, Maria,
Seu apelido, Lisboa.
Um elogio à simplicidade e à cidade que ama.
David Mourão Ferreira é isto? É, mas não só! É muito mais!
Tudo isto aprendi ontem, o que prova, empregando uma frase feita que nunca é tarde para aprender, mas sobretudo prova o quanto devemos estar sempre dispostos para novas aprendizagens, porque é conjugando o verbo aprender que se vai vivendo.
Sou uma pessoa simples.
Não fui, não sou e não serei nunca uma intelectual, mas gosto e julgo saber ver o que é belo.
Fotos da sessão de ontem dos Jograis Nova Atena.
Na foto de cima a Professora Teresa Martins Marques com Eduarda Galhoz, um dos elementos dos jograis e a pintora, o seu quadro alusivo entre ambas.
Na seguinte vários participantes deste grupo de jograis.
Pelo seu bem-estar, atreva-se, dedique-se, participe em actividades que lhe dêem prazer e viva mais feliz e livre.
Mafalda, 25 de Fevereiro de 2011
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