Conta a lenda que ele voltará um dia, ressurgindo na bruma de uma manhã de nevoeiro.
E quem de nós já não proferiu numa dessas ditas manhãs, brincando e relembrando a lenda – É hoje que Ele vai voltar.
Suponho que em imaginação, idealizamos ver aparecer um homem idoso, quiçá andrajoso, barba e cabelos compridos, arrastando os pés, movendo-se com dificuldade por tantos séculos passados, sabe-se lá quantas atribulações vividas.
Pois eu garanto que o vi numa manhã bem quente e iluminada de sol, exactamente no segundo dia deste Verão bem de pé na Praça Gil Eanes da linda e nesta altura do ano tão movimentada, cidade de Lagos. Cidade aliás elevada a essa categoria pelo próprio monarca lá pelo século XVI e de onde partiu com a frota da sua perdição para depois se tornar lenda, no "Mito do Sebastianismo".
Nada de idoso, trôpego, ou mal cuidado, antes pelo contrário, envergava uma armadura de corte moderno, elmo no chão, uma farta cabeleira bem penteada que lhe conferia um ar de teenager inconsciente. No aspecto geral, mais se parecia com um menino feliz.
Cá para mim lá por terras mouriscas, perdeu-se de amores por uma moira encantada que com danças e olhares misteriosos o enfeitiçou, tanto que o fez descobrir a fonte da eterna juventude.
- Qual amor patriótico, qual nada – terá pensado antevendo Portugal uns séculos depois.
Um dia visitá-los-ei, mostrando ao meu país como vale a pena viver.
E ali estava ele, trazido pela mão de João Cutileiro, bem na minha frente, aguardando o reconhecimento e o cumprimento do seu povo há muito abandonado.
Nada mais havia a fazer senão prestar-lhe a devida vassalagem.
Foi o que fiz, à moda dos tempos modernos fotografando-o, qual paparazzi, que na rua encontra desprevenido o seu rei – El Rei D. Sebastião.
Mafalda, 26 de Junho de 2010
(foto minha)
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