Serei eu capaz de dar um pouco de continuidade ao teu texto Manu?
Deixas-me experimentar?
E depois quem seguirá?
William de Baskerville é um frade da ordem franciscana que desempenha um papel contrastante com o papel da Igreja da época, sobrepondo o valor dos sentimentos às sentenças das leis da Igreja. Esta ordem é ainda muito contestada pela Igreja daquele tempo em que a Santa Inquisição exercia um poder enorme em nome de Deus e que se abatia sobre todos que ousavam contestar de algum modo os princípios estabelecidos pela Santa Madre Igreja, julgando e condenando de heresia quem a tais princípios se opusesse.
Na qualidade de mensageiro da embaixada que o Imperador Luís da Baviera se preparava para enviar com o intuito de conferenciarem com os representantes do Papa João XXII, que por essa época se encontrava instalado, não em Roma, mas em Avinhão, William de Baskerville é enviado a uma abadia beneditina dos Alpes marítimos italianos.
E é por aqui que toda a trama do romance - Il nome della rosa se começa a desenrolar.
William de Baskerville faz-se acompanhar nesta expedição pelo seu discípulo Adson (ou Adso) de Melk, filho do Barão de Melk, um município da Áustria à beira do rio Danúbio.
Chegados à abadia, são incumbidos pelo Abade de desvendarem o crime de um dos monges que acabara de acontecer.
Adso, acaba por se tornar num precioso auxiliar de William e num dos personagens principais já que, através das questões que ao longo de todo o enredo vai colocando ao seu mestre que se empenha até ao final em desvendar o mistério dos assassínios em série, que entretanto vão ocorrendo, mostrando ao espectador, nas respostas que arrecada do seu mestre o desvendar de toda a intriga, associada às mortes deste romance, passado na Idade Média.
A prova disto é que a certa altura o mestre diz a Adso… “Começas a pensar...”.
Aparentemente o ritmo das mortes obedece a uma sequência apocalíptica, semelhantes às catástrofes do final dos tempos das sete trombetas Apocalípticas.
William acaba por descobrir que por detrás das causas das mortes dos monges, está um livro mantido em segredo, na biblioteca da abadia, uma das maiores bibliotecas da cristandade que deveria ser considerada preciosa e da qual ninguém devia ser impedido de visitar.
Adso considera que talvez fosse por conter uma sabedoria diferente da que conheciam, ao que William contrapõe que será antes porque as ideias em alguns contidas, fariam pôr em dúvida a infalibilidade da palavra de Deus.
"...A vida da ciência é difícil, e é difícil distinguir aí o bem do mal. E frequentemente os sábios dos tempos novos são só anões aos ombros de anões” – É uma das frases com que William ilustra a obra.
De facto existia um livro de que apenas três monges tinham conhecimento e que mesmo eles se encontravam proibidos de se aproximar dele. O livro da Poética de Aristóteles, que supostamente trataria do riso e que era considerado um atentado à fé. O riso aniquilava o medo… "sem medo não pode haver fé. Sem o medo do Diabo, não há necessidade de Deus. Que aconteceria se devido a este livro, os eruditos declarassem ser permitido rir de tudo? (...) O mundo regressaria ao caos, por isso selo aqui no túmulo em que me transformo" – palavras do monge cego de nome Jorge a William de Baskerville quando finalmente este descobre ser ele o autor dos crimes.
A busca deste livro tornou-se assim na causa das mortes ocorridas.
William de Baskerville, frade franciscano, símbolo da razão e do conhecimento científico, aparece-nos como uma qualquer figura de um romance policial no papel de um detective, astuto e perspicaz na sua observação.
Um espectáculo, em que o espectador é posto em contacto com a própria obra e se vê envolvido num labirinto que parece caracterizar o enredo e ainda no labirinto das salas, corredores, claustros, descendo e subindo escadas de pedra e em caracol lugares que percorre durante as cenas acabando assim por fazer parte do próprio cenário, o convento.
Mafalda, 30 de Setembro de 2010
Ana sentou-se no maple segurando na mão um livro, sua leitura no presente – Visto do Céu de Alice Sebold.
Uma história já muitas vezes escrita, mas contada de um modo diferente que a estava a entusiasmar.
Depois de se instalar confortavelmente, abriu o livro no lugar do marcador. Era o fim de um capítulo, retirou a marca e virou a página.
Este gesto natural transportou-a de súbito e sem aviso para outra situação.
Em certo dia escrevera um texto que falava sobre o virar de páginas.
Não se tratava das páginas de um livro, embora se lembrasse de com isso ter feito a sua analogia. Falara das páginas da vida que durante os percursos percorridos, tantas vezes, quer custe ou não, é necessário virar.
Saltam-se as pedras que se cruzam no nosso caminho, tropeça-se nelas caindo ou quase caindo, é preciso lutar, fazer um esforço para de novo se erguer e seguir em frente. São metas que se atingem, objectivos que se cumprem, páginas que se viram.
Como seria se num qualquer dia por um acaso voltasse a encontrar aquele sorriso ao mesmo tempo atrevido e carinhoso que lhe levantava ligeiramente o canto esquerdo da boca, aquele sorriso que lhe lembrava a frescura de uma gota de orvalho colhida pela madrugada.
Como seria sentir sobre si de novo aquele olhar transparente que parecia invadir-lhe a alma querendo descobrir-lhe os segredos.
Como seria olhar aquelas mãos de quem sentira o arrepio de um afago, aquelas mãos que tão bem sabiam deslizar nos contornos da ternura e do desejo.
Como seria ouvir a voz, aquela voz que falava sussurrando de doces suspiros, de encantos tantos, de promessas adivinhadas.
Quanta saudade desmedida vibrava agora em seu peito. Doía o momento! Como doía!
Ana voltou o rosto na direcção da janela. Lá fora as luzes da cidade brilhavam. Notou com espanto pingos de chuva nas vidraças.
Não se apercebera que chovia… eram os primeiros sinais do Outono que se fazia anunciar.
Esquecera o livro. A sua mão continuava pousada sobre as páginas abertas.
Quem sabe porque se lembrara tão intensamente.
Talvez a chuva tivesse trazido consigo as memórias, talvez que tenha sido o odor do Outono, talvez…
Quem pode saber das nuances do talvez.
Ana fechou o livro, encostou-o ao peito abraçando-o. Fechou os olhos e encostou a cabeça para trás deixando descair um pouco o corpo.
Não soube quanto tempo ali ficara.
Sabia apenas que não esquecia.
Mafalda, 23 de Setembro de 2010
Sendo uma pessoa que sofre um pouco de falta de confiança e de insegurança, não me achando muito inteligente ou esperta e considerando-me mais do que vulgar, de vez em quando saltam-me uns impulsos e dou comigo a fazer coisas, como entrar em lugares, onde até costumo ir e me limito a escutar as conversas dos amigos, e dou comigo dizia eu, a intervir debatendo ideias com pessoas que considero, quer do ponto de vista de boa formação, de conhecimentos, de intelectualidade, superiores a mim.
Enquanto o diálogo decorre, sinto-me bem e considero-o salutar pois sei que sempre aprendemos alguma coisa.
O pior é quando algumas horas passadas e depois de remoer o pensamento, me condeno por me ter deixado levar pelo impulso e chego sempre à conclusão que teria feito melhor figura se tivesse ficado quieta no meu canto como habitualmente.
Outro estádio em que normalmente sou reservada é na primeira abordagem a pessoas. Levo muito tempo a decidir-me se devo ou não dar o primeiro passo e efectuar o contacto e quando finalmente o faço, passado um tempo (nalguns casos), acabo duvidando de o ter dado na direcção certa. Dou muita atenção aos pormenores, pequeninas coisas, às vezes só mesmo uma intuição e a interpretação que faço deles leva-me a acreditar que do outro lado não há o mesmo interesse de prosseguir no mútuo conhecimento.
Depois o resultado é sentir-me como hoje… não vou exagerar e dizer derrotada, mas de mal comigo mesma.
Mas como nem tudo pode ser mau, bom senso julgo possuir. Os impulsos são difíceis de controlar, mas as vozinhas que escuto cá dentro, dão-me bons conselhos dizendo: - tenta mais uma vez ou duas e agirás conforme o resultado que delas obtiveres. É essa a experiência que neste momento estou pondo em prática. O que for soará.
Decididamente a “aventura” não é o campo onde devo jogar e poucas são as vezes em que o atrevimento me tem deixado marcar pontos.
Mafalda, 22 de Setembro de 2010
Olá, voltei e a sério que já tinha saudades disto.
Lembrei-me de vocês nas férias e apeteceu-me trazer-vos uma lembrança.
Entrei em todos os bazares, lojas de artesanato e de souvenirs, vi e remirei todas as conchinhas lindas que encontrei, gastei parte dos meus neurónios a pensar no que seria certo para vos oferecer…, um chapéu de sol para vos proteger, uma toalha de praia bonita para vos acolher, um elástico para o cabelo que o defendesse do vento, uma flor daquele frondoso arbusto do centro da vila, até um assombroso postal ilustrado, mas confesso, fiquei frustrada porque nada me pareceu suficientemente bom.
Até que uma ideia luminosa surgiu… luminosa e docinha.
Porque não fazer um bolo gostoso e juntos partilhar uma fatia num alegre convívio?
Aqui fica a receita.
Batem-se vigorosamente, cem gramas de carinho com outras tantas de ternura para que fique bem docinho.
Juntam-se-lhe seis palavras, alegria, sinceridade, gratidão, compreensão, solidariedade e amizade, batendo sempre até obter uma massa fofa e homogénea.
Aos poucos, adiciona-se-lhe cem gramas de amor, misturadas com duzentos gramas de felicidade para que a massa cresça com leveza.
Por fim, sem bater, vai-se envolvendo com a saudade acumulada.
Unta-se uma forma com uma dose de paciência e polvilha-se com doçura q.b. para o bolo não pegar.
Vai a cozer em calor brando do coração, no tempo ameno da esperança.
Depois de desenformado, enfeita-se cobrindo-o todo de sorrisos frescos partilhados e polvilha-se com beijos doces soprados na ponta dos dedos.
Et voilá…
O bolo já está partido... Façam favor de se servir e serem felizes.
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