Hoje acordei passaria um pouco das sete horas, talvez uns quinze minutos, nem tanto e já a luz do dia, atrevida, assaltara meu quarto.
Virei meu olhar para a janela, de que quase nunca baixo o estore e vi o céu limpo e azulinho numa manhã que prometia mais um dia de Primavera
Foi então, nesse olhar o céu através da vidraça, que me lembrou uma canção e que mentalmente me encontrei a cantar.
“...Que saudades eu já tinha da minha alegre casinha tão modesta como eu. Como é bom, meu Deus, morar assim num primeiro andar a contar vindo do céu....”
É verdade, eu moro num quinto andar, o último piso do prédio. Descobri a semelhança entre o meu quarto e o verso da canção. Tentei recordar a restante poesia e apenas me lembrei de mais uma quadra:
“...De manhã salto da cama e ao som dos pregões de Alfama, trato de me levantar, porque o Sol, meu namorado, rompe as frestas do telhado e a sorrir vem-me acordar....”
Mais uma vez, embora não pelas frestas do telhado, mas através da janela, descobri nova semelhança entre o meu quarto, eu e a canção.
Em vão tentei recrear todos os versos, e apenas descortinei uma ou outra palavras soltas.
Experimentei então uma saudade imensa, porque me lembro de ouvir minha mãe cantá-la.
Trata-se de uma canção antiga, cantada por uma artista da época de que não lembro o nome e que, se aqui, a minha memória não me atraiçoa, fazia parte da banda sonora de um filme português.
Ela foi mais recentemente recriada e adaptada, com bastante êxito diga-se de passagem, por uma banda portuguesa bem conhecida, os Xutos & Pontapés.
Mas por mais que tentasse ao relembrar esta última versão, apenas me lembrava de os ouvir cantar a primeira quadra.
Pela saudade que este recordar me fez sentir de minha mãe, achei que lhe devia uma tentativa de encontrar tudo o que pudesse sobre o original.
Tenho perfeitamente presente o comentário que fez quando ouviu pela primeira vez a versão dos Xutos & Pontapés (que me desculpem os Xutos, eu compreendi, sei que vocês também o entenderiam se alguma vez lessem o que aqui deixo escrito):
- “Estragaram a canção!”
Levantei-me e fui ao Google procurar nos lyrics na esperança de encontrar não só os versos completos, mas também mais alguma informação, sobre tudo quanto lhe dizia respeito. Mas não! Por mais que procurasse, apenas me aparecia a versão dos Xutos & Pontapés.
Em tantos sites que visitei encontrei num, em cabeçalho a publicidade de um cantor de mote popular que anunciava as suas actuações em vários eventos e para possíveis contratações punha à disposição os seus contactos inclusivé o seu e-mail. Chama-se o artista Miguel Agostinho e confesso a minha ignorância por nunca ter ouvido falar dele.
Passou-me então pela cabeça, sem grande esperança de resposta, enviar-lhe um mail pedindo-lhe, dado que era um cantor popular se teria alguma possibilidade de me conseguir a informação pretendida, não sem fazer notar a parte sentimental da questão. A lembrança da voz de minha mãe cantando-a.
Pois é!
Ás vezes ficamos surpreendidos com a boa vontade de pessoas de quem nem nunca ouvimos falar.
Não é que recebi de Miguel Agostinho e no mesmo dia, não um, mas dois mails respondendo-me? No primeiro indicava-me um site para procurar. E no outro dizia que se tivesse dificuldades com o anterior procurasse num outro que também me enviava.
Espantada e ansiosa procurei o referido site.
E pronto “No Quarto de Candy” lá estava tudo o que eu queria. A letra e toda a informação.
Quem a cantava era a Milú, famosa artista do nosso meio e que em beleza, nada ficou a dever às grandes divas de Hollywood da época. Foi no ano de 1943 e tal como eu imaginava pertencia á banda sonora do filme “O Costa do Castelo”, também este bem popular entre o nosso público e que muitos de nós viram já em reposições na RTP.Ah que gratificante é, nesta vida por vezes descontente, encontrar entre o nosso semelhante, alguém que, sem qualquer contrapartida esteja presente e disposto a ajudar.
Pois bem não mais tive que fazer senão agradecer e agradecer de coração a Miguel Agostinho.E pronto quem quiser saber mais pode sempre visitar o blog “No Quarto de Candy”, a quem também deixo o meu sincero agradecimento pela lembrança que, sem saber, me deixou e neste dia me preencheu.
Mafalda, 13 de Novembro de 2008
http://noquartodecandy.blogspot.com/2005/08/as-saudades-que-eu-j-tinha.html
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