Caminho caminhando por um caminho que não sei onde me leva.
E neste caminho que caminho não avanço, me quedo parada.
Olho o caminho atrás de mim e nele não vejo nem pó levantado por meus passos, nem pegadas do meu caminhar.
Neste caminho que caminho, não vivo, não existo, pairo apenas em meus pensamentos que se atropelam entre lembranças do passado que vivi e sonhos que não vivi, do presente que me preocupa e desilude e do futuro, que já curto será e não consigo imaginar.
Sigo caminhando pelo trilho marcado no chão nada ouço, nada vejo.
Neste caminho que teimo em continuar caminhando, deixei de lutar, perdi o entusiasmo, abracei o desânimo e com ele me fiquei.
Algures para trás deste meu caminho ficou o gosto por tudo o que gostava. A minha música, os meus passeios, os meus livros, os meus amigos.
E de braços caídos, sem alento e insípida, por aqui vivo neste caminho sem beleza e de mim não gosto.
Caminho caminhando por este caminho enquanto espero voltar a ser quem era, encontrar de novo a minha esperança, aquela esperança que não sei de onde me vinha, mas que sempre estava presente. Nela encontrava a força para seguir em frente, ultrapassar os obstáculos, viver intensamente os momentos da minha vida, quer tristes, quer alegres, mas sempre com a mesma paixão.
Quem foi que disse “...que importa que hoje chore se amanhã rio...”?
É assim que eu quero viver!
Quando encontrar de novo a minha esperança.
Por ela lutarei!
Mafalda, 25 de Janeiro de 2008
Sigo com os olhos aquele bando de pombos que da minha janela vejo e observo e acabo de fotografar.
Voam em simetria, num perfeito alinhamento, como se de um exército, bem treinado, bem disciplinado se tratasse, obedecendo a uma voz sonora de comando.
Será um paradoxo comparar um exército que nos lembra a guerra a um bando de pombos, do qual retiramos a pomba branca, símbolo da paz, mas observando-os, eu vejo que parecem obedecer a um comando perfeito, mudando de direcção, invertendo o sentido, subindo e descendo, sem que nenhum se “atrapalhe”, se canse e desista, se desvie do seu rumo, que é o rumo de todos.
Eu sei, que já li, que de facto existe um “leader” que todos seguem, mas o seu código de liderança é tão perfeito que não existe uma falha na sintonia do bando.
Então eu diria que eles são como “Os Três Mosqueteiros” – “Todos Por Um e Um Por Todos”.
Será que existe entre o ser humano alguém assim?
A Natureza é de facto perfeita e digna de se apreciar!
E é tão perfeita que nem a falta de uma imperfeição existe!
Nela existe apenas um pequeno senão de pouca importância – o Homem.
Não sei como se atreve ele a desafiá-la, pois já devia saber que mais tarde ou mais cedo e apesar de paciente, Ela cobra a sua ousadia.
O Homem designado como o único animal racional deste planeta, que tem inteligência que lhe confere sabedoria e conhecimento, é de certo a única coisa imperfeita que a Natureza possui porque com a sua inteligência ganhou o desejo do poder.
Querendo ser mais forte, mais conhecido que o seu vizinho, tornou-o dominador e criou a discórdia. E subindo na escala das hierarquias desencadeou a guerra.
Somos então, os seres humanos, uma classe de dominantes e dominados. Onde nos leva isto? À intolerância e à submissão à riqueza e à pobreza, à arrogância e à humilhação.
Vivemos a vida entre grandes diferenças sociais, conflitos raciais, confrontos religiosos e políticos, fronteiras que nos barram e toldam o entendimento do que é correcto, da diferença entre o bem e o mal.
E o que é o bem e o mal?
Os valores morais alteram-se de dia para dia, muitas vezes conforme nos é mais conveniente e cada um vive por si, para si, voltado apenas para dentro do seu próprio ego, sem se importar, nossos olhos nem viram, se o nosso semelhante que acabou de passar ao nosso lado chorava ou ria.
Não lhe estendemos a mão num gesto de consolo, ou de partilha, da sua tristeza ou da sua alegria, porque isso nos faria despender de amor e tempo que não temos para dar.
Corremos não sei porquê nem para onde.
E ainda existe o “Livre Arbítrio”, passe a parte religiosa, em que cada cidadão é livre de escolher e construir o seu próprio destino, conduzir o rumo da nossa vida, fazê-lo depender apenas da nossa vontade, podendo sempre escolher o melhor caminho.
E para onde nos remete isto? Qual é o veredicto da sentença se nos queixarmos?
Culpados! Culpados e apontados porque podíamos escolher!
Que mundo este criámos com tantas desculpas mal acabadas, com tantas atrocidades feitas em nome de boas causas dissimuladas, em nome da libertação dos oprimidos que oprimidos continuam, apenas por outros diferentes, em nome da beleza que é a vida e que não nos é permitido viver em beleza.
Reina então a escolha?
Não o que reina é o poder e a lei do mais forte!
Porque na verdade eu vos digo que se eu pudesse escolher, viveria com certeza no Palácio de Belém e poderia não fazer melhor do que quem lá vive, mas faria de certeza igual – Nada!
É isso mesmo que estão pensando, sou como todos, quero o que todos querem, com uma única diferença.
Penso que todos temos direito ao mesmo, viver uma bela vida, com dignidade, com amor, com segurança, com bem estar.
Graças a quem assim não pensa e quer e que em discurso público o diz abertamente, aliás igual a qualquer outro, cito José Socrates “...queremos um país mais justo, mais pobre...”.
Falando a voz do povo, “fugiu-lhe a língua para a verdade”.
Mafalda, 7 de Janeiro de 2008
(Foto minha)
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