Recostada na espreguiçadeira á beira da piscina, no deleite de gozar o tranquilo final de tarde, descontraída e serena, sou de repente arrancada a este sossego, por uma voz masculina, sonora mas agradável dizendo – Pronto Senhora. A pronúncia era de língua espanhola.
Ignorava o que se passava á minha volta, mas sabia, claro, que comigo não era.
Curiosa (eu não nego) e observadora, mas discreta (juro que sim) que sou, dirigi lenta e subtilmente o meu olhar para o lado de onde me tinha chegado aquela voz.
Na espreguiçadeira à minha esquerda, do lado de lá do espaço ocupado pela cancela feita em tronquinhos de madeira que separa a zona da piscina da zona adjacente do jardim relvado, comum aos apartamentos circundantes, uma mulher jovem (talvez na casa dos trinta e...), vestindo um biquíni azul turquesa, repousava também. De pé um homem (talvez pelos quarenta e...), figura elegante, não bonito, mas “charmoso”, vestindo uns calções e uma t-shirt, transportava na mão uma bandeja, inclinando-se por cima da mesinha próxima ao pousá-la.
Na bandeja havia duas chávenas de café uma garrafa pequena de água, um copo vazio e um outro copo contendo um liquido que pelo aspecto e cor eu diria ser whisky.
E sentando-se em seguida na cadeira junto á mesa, inclinou-se desta vez para a jovem senhora, pousando sua boca no ventre desnudo pelo biquíni, deixando nele um beijo que condizia em absoluto com o tom de voz com que pronunciara a frase que me havia chamado a atenção.
Um tom de “servilismo” terno e doce, desejoso de agradar, mais do que isso, deliciado.
Mais não vi e ninguém notou que tudo isto eu observei. Para não incomodar mesmo, desviei o olhar fechando de novo os olhos e interiormente sorrindo.
Não tinha sido uma cena escaldante, antes pelo contrário. A meu ver bastante singela. Mas ainda assim tão rica, intensa, na intimidade entre duas pessoas.
É que mil gestos destes podem fazer toda a diferença pelo gosto da vida e valem uma infinidade de presentes valiosos.
Mafalda, 17 de Setembro de 2009
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. A pena do gabbiano deslis...
. O BEIJO
. Casa Arrumada... Desarrum...