Há muitos, muitos anos, tantos que eu ainda me encontrava na casa dos vinte e..., ao folhear distraidamente uma revista, de que já não lembro, mas pouco importa qual, deparei-me com um texto que ocupava uma página inteira (a página direita, isso eu lembro).
Estava escrito
O que li achei no mínímo curioso e conclui que tinha valido a pena dedicar uns momentos do meu tempo lendo-o, em vez de, simplesmente, virar a página como estava fazendo com a revista. Tanto que recortei a página e a guardei.
Hoje ao arrumar uma gaveta da escrevaninha encontrei no fundo, guardada num envelope essa folha da revista, o papel já um pouco amarelecido pelo tempo.
Reli-o e ao fazê-lo experimentei a mesma sensação da primeira vez.
Quem o escrevera, retratara bem como é importante (de parte a parte) perceber, empenhar-se, usar a imaginação, ter a capacidade de surpreender e acima de tudo, nunca se acomodar, para que as relações não percam a cor, não esmoreçam, não se tornem insípidas, que as pessoas não se suportem apenas e muitas vezes não acabem por terminar, com o decorrer do tempo.
Acho que o texto dá que pensar e por isso a seguir o transcrevo.
Não me digas que, então, eu te amava...!
Quem entende destas coisas não confunde o amor com a paixão.
As nossas primeiras conversas foram sobre como seria mais tarde, connosco e não era nunca de uma casa que eu falava, mas de um lugar com muito chão, algumas almofadas e discos fora das capas, tu ouvias-me com atenção. Também te expliquei, muitas vezes, a difícil teoria do desejo permanente e a relação disso com a intimidade ocasional: sabes que até reparava nos sapatos que levavas, quando ias a minha casa aos sábados à tarde!?
Já não usas fitas no cabelo.
Agora já és apenas aquela que está sempre em casa, quando eu chego...Vivemos juntos. Enquanto eu faço a barba, tu lavas os dentes. O cheiro da minha água de colónia mistura-se com a tua.
Bem vejo a tua irritação, quando me enfronho nos meus livros, depois do jantar e tu ficas à espera que eu invente uma conversa, uma saída, como fazia dantes. Íamos a Óbidos, só para te tirar fotografias!
Que aconteceu à tua cara?
Não te pedi que te tornasses a “dona” desta casa, e não esperes que eu te agradeça todo o trabalho que tens para a manteres limpa e confortável.
Cada botão que pregas na minha roupa aproxima-te mais da minha mãe.
O que é que perdeste, pouco a pouco, á media que te fui conhecendo?”
Desconheço o autor
Mafalda, 25 de Abril de 2009
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