No silêncio da noite sonolenta, escutava o ressoar dos seus passos cadenciados, leves.
Caminhava sem pressa, sem destino, sem rumo, apenas para se sentir totalmente inteiro nos seus pensamentos que o transportavam a prazeres poucas vezes sentidos.
Deixou-se guiar pelas luzes dos candeeiros antigos e cansados.
Voou pelas asas da imaginação, pintou de cores portas fechadas e janelas escuras.
Deambulou por entre ruas e vielas contornando casas que as estreitavam e ouviu dos telhados os murmúrios e os suspiros que se evaporavam.
Lembrou-se do fado, canção tão chorada de que não gostava.
Dos poetas que cantavam os amores e as tertúlias da noite boémia e que não lia.
E no turbilhão do silêncio ensurdecedor sentiu a vida que o chamava e o tempo que passava como o deslocar soprado do vento.
Quanta calma, mas quantos gritos calados no seu caminhar solitário.
E no entanto, sentia-se completo, livre, em casa, aconchegado.
Olhou as pedras da calçada, tão característica da sua cidade, que continuava a trilhar.
Tinham brilho próprio, polidas mas gastas por tantos passos desconhecidos que a pisavam.
Percebeu que aquelas pedras respiravam, contavam histórias e delas, milhares de rostos se desenhavam.
Transpiravam plenas de vida. De vidas passadas, ausentes, alheadas, presentes, de hoje, de ontem, salpicadas de lágrimas, semeadas de sorrisos.
Pulsavam a cada minuto decorrido.
A noite é mágica, tem destas coisas! Oferece-nos momentos quase perfeitos.
E foi então que se apaixonou por aquelas pedras da calçada.
Mafalda, 27 de Novembro de 2011
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. Pedras da calçada Lisboet...